O QUE É A CIRCULAÇÃO DO DINHEIRO E A CIRCULAÇÃO DO CAPITAL
Certamente existe uma inquietação muito grande quanto ao aspecto da circulação do dinheiro e do capital, primeiro por serem quase que palavras homónimas e a sociedade em geral tem associado as duas como se fossem uma só. A característica distintiva fundamental da economia capitalista, do ponto de vista monetário, é a natureza da circulação. A circulação das mercadorias e a circulação do dinheiro convertem-se em momentos da circulação do capital industrial, isto é, mercadorias e dinheiro circulam como capital-mercadorias e capital monetário, isto é, como momentos transitórios dos capitais industriais individuais em processo de reprodução.
Neste caso o caro leitor deve estar a se perguntar como é que o dinheiro circula. O dinheiro já não circula como mero intermediário das trocas de mercadorias, mas predominantemente como capital na forma monetária. Por outro lado, as mercadorias também não mais constituem uma massa indiferenciada, mas dividem-se, segundo a sua função económica, em dois grandes grupos: elementos do consumo individual (dos trabalhadores e dos capitalistas) e do consumo produtivo (meios de produção).
Como são palavras muito semelhantes certamente estás a te perguntar como elas podem estar divididas no ponto de vista macro. Correspondentemente a eles, o meio circulante divide-se em forma-dinheiro do rendimento e forma-dinheiro do capital, cujos movimentos não são coincidentes (MARX, 1984a, p.337-341).
A forma-dinheiro do rendimento consiste na parte do meio circulante necessária para a circulação dos meios de consumo, tanto na função de meio de circulação quanto na de meio de pagamento; de modo análogo, a forma-dinheiro do capital é a necessária para a circulação dos elementos do capital constante entre capitalistas industriais e comerciais.
Quanto a descomposição do meio circulante, podemos tratar de forma genérica assim, o meio circulante pode ser decomposto, por um lado, segundo a sua função como dinheiro — meio circulante e meio de pagamento — e, por outro, segundo a função da mercadoria circulada—forma-dinheiro do rendimento e do capital. Como forma-dinheiro do capital, o dinheiro em circulação representa o capital industrial na sua forma monetária.
COMO DISTINGUIR O DINHEIRO QUE CIRCULA
Quando falamos de distinção do capital circulante e do dinheiro certamente estamos a buscar a principal diferenciação que existe entre os termos. Daí ser necessário distinguir o dinheiro que circula simplesmente como dinheiro daquele que circulada nesta última função. Finalmente, o capital monetário acumula-se no sistema bancário como fundo de reserva — a configuração capitalista do entesouramento —, do conjunto dos capitalistas, convertido em capital de empréstimo, isto é, entra em circulação na forma de mercadoria-capital, como se verá na seção seguinte.
O que é decisivo é que, em todas essas formas, o movimento do dinheiro subordina-se ao movimento de reprodução do capital industrial global, entendido como processo de produção e acumulação de mais-valia, com base na relação capital/trabalho. Aí reside o fundamento da distinção da teoria marxista sobre o dinheiro em relação às correntes subjectivistas da economia académica a partir da teoria neoclássica.
Aqui existem situações que podem deixar-nos nesta proposição aparentemente contradiz um aspecto marcante da realidade actual, que é o destaque alcançado pela esfera monetário-financeira na economia, ao lado do destaque teórico dado ao dinheiro como factor determinante da economia nas teorias keynesianas. Note-se que, embora tanto na teoria de Marx quanto na de Keynes "o dinheiro importa", e muito, lembrando a expressão de Keynes, os sentidos dessa expressão são muito diferentes nas duas versões.
Assim, a definição da economia actual como uma "economia monetária", feita por Keynes (1933,1933a), tem um sentido bem diverso da sua definição como "economia capitalista", feita por Marx: no primeiro caso, destaca-se a circulação monetária como expressão da conduta maxúnizante dos capitalistas; no segundo, a circulação de capital como expressão das tensões dinâmicas oriundas da relação conflitíva entre capitalistas e trabalhadores. Em função disso, não é procedente a afirmação de que "tanto Keynes como Marx partem de uma economia monetária" (MOLLO, 1987, p. 221).
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