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 DO CONSUMO AO INVESTIMENTO

Voltando a Schultz, pai de teoria do capital humano, vemos que já nos  seus primeiros textos sobre o investimento no homem aparece uma proposição que irá se desenvolvendo e tomando centralidade; proposição que implica, como tentaremos mostrar aqui, uma profunda mudança conceitual com importantes implicações futuras muito além do campo estritamente acadêmico.

Para Schultz, “muito daquilo a que damos o nome de consumo constitui investimento em capital humano”. Como ele vai repetir em vários de seus artigos, “é uma verdade
simples que as pessoas investem em si mesmas”. No entanto – reclamará –, uma
parte importante da renda que é usada para fazer esses investimentos é classificada
como consumo.

Finalmente, é também tido em conta o facto de que as empresas podem não ter interesse em ajustar instantaneamente o seu stock de capital para o nível desejado. Além do custo normal do investimento, existe frequentemente um custo adicional, de ajustamento, tanto maior quanto mais rápida se pretenda a formação do capital. Assim sendo, muitas vezes é mais económico fazer os investimentos de forma gradual.
Por vezes, a necessidade de tempo para que as empresas acumulem capital não se deve à existência de custos de ajustamento elevados, mas a uma impossibilidade tecnológica.

Para entender o movimento conceitual que a teoria do capital humano
produz do “consumo” para o “investimento” e, depois, poder assim analisar
alguns dos seus efeitos além da teoria econômica e das discussões acadêmicas,
precisamos acompanhar a evolução que esses conceitos apresentam nos textos de
Schultz ao longo dos anos. No artigo de 1961, considerado seminal para a teoria
do capital humano, Schultz começa se perguntado “como podemos avaliar a
magnitude do investimento humano?”

CONSUMO COMO INVESTIMENTO:

 A TEORIA DO CAPITAL prática seguida com os bens físicos de capital, ou seja, avaliar a magnitude da formação do capital pelos gastos efetivados na produção desses bens. Mas, para o capital humano, dirá Schultz, “há um problema adicional”, problema este que é menos premente para os bens de capital físico; isto é, como distinguir entre os gastos para consumo e os gastos para investimento. Era evidente para o autor
que essa distinção se apresenta cheia de dificuldades, tanto conceituais quanto práticas (Schultz, 1961, p. 8). No começo dos anos 1960, no entanto, Schultz tentava uma resposta à pergunta de como diferenciar entre gastos em consumo e gastos em investimentos.

A primeira proposta foi pensar em três classes de gastos: a) as despesas que
satisfazem as preferências do consumidor e que, de forma nenhuma, aumentam
as capacidades em discussão, despesas estas que representam consumo puro; b) as despesas que aumentam as capacidades e que não satisfazem nenhuma preferência subjacente ao consumo pelo que representam então puro investimento; e c) as despesas que têm os dois efeitos, o de ser em parte consumo e em parte investimento.

Para Schultz, a maioria das actividades era claramente dessa terceira classe e, por isso, a tarefa de identificar cada componente tornava-se em um labor realmente formidável e a medição da formação de capital a partir dos gastos acabava sendo muito mais complicada para os investimentos humanos do que o era para os investimentos em bens materiais.

Essa primeira classificação, como veremos, mudará com o decorrer do
tempo. No entanto, ainda com essas categorias como ferramenta, os teóricos do
capital humano dedicaram-se ao estudo dos rendimentos em educação. Nesse
sentido, foram feitas algumas primeiras estimativas tratando todas as despesas
com a educação como “puro investimento” – lembremos que até então os gastos
no homem tinham sido considerados de uma maneira geral como “consumo”4–,
e o resultado foi que, inclusive para as estimativas menos otimistas, os rendimentos
eram próximos aos rendimentos do capital não-humano. 

No caso dos gastos com a educação , por exemplo, Mark Blaug comenta que “A concepção tradicional pre-1960 entre os economistas era a de que a demanda por educação pós-obrigatória era uma demanda pelo consumo de um bem, e como tal dependia de ‘gostos’ dados, de ingressos familiares, e do ‘preço’ da instrução na forma de custos de ensino.

Estava a complicação de que essa demanda de consumo também envolvia uma ‘capacidade’ para consumir os bens em questão, mas a maioria dos economistas estava satisfeita de deixar isto para sociólogos e psicólogos sociais
para mostrar que tanto ‘gostos’ quanto ‘capacidades’ dependiam por sua vez do background de classe social dos estudantes e, particularmente, do nível de educação de seus pais” (BLAUG, 1976, p. 829).

Mas seria correto tratar todas as despesas em educação como “puro
investimento
”? Para Schultz era evidente que não. Devia haver uma parte dos
custos da educação que eram gastos dedicados à satisfação de necessidades
concretas e específicas do indivíduo que não redundavam num aumento de suas
capacidades futuras de ganho; portanto, os recursos consumidos na sua satisfação
não podiam ser considerados como investimento. Conseqüentemente, as despesas
em educação constituíam um claro exemplo da terceira categoria de gastos,
aqueles que eram “parte consumo e parte investimento”. Isto tornava ainda mais
sugestiva a ideia do investimento no homem para os teóricos do capital humano –
embora permanecesse, obviamente, a dificuldade de determinar em que proporção
as despesas faziam parte de uma categoria ou da outra.

O motivo era simples: se na simulação criada pelo modelo teórico considerando todos os gastos em educação como “puro investimento”, o cálculo dos rendimentos desse investimento mostrava uma taxa de retorno semelhante ou mais alta do que a dos investimentos em capital não-humano, o fato de que uma parte (ainda desconhecida) ia para o consumo implicava que o investimento em educação era menor que o total de todas as despesas dedicadas a essa área e, portanto, os retornos que estavam sendo obtidos eram ainda maiores do que as estimativas mostravam.

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